A Medida Provisória que reformula o
ensino médio – publicada ontem no Diário Oficial da União – já enfrenta
resistências no Congresso, nos Estados e no Ministério Público. Além
disso, apesar dos diversos esclarecimentos do Ministério da Educação
(MEC), continuam as polêmicas sobre as disciplinas que serão
obrigatórias. As dúvidas sobre implementação do modelo persistem, com
alunos de escolas paulistas já falando até em ocupações, como as que
aconteceram em 2015. O MEC ressaltou ontem que o novo modelo, como foi
informado anteontem, é opcional – ou seja, ninguém está obrigado a
adotá-lo.
Ontem, a MP publicada manteve os trechos
que tratam das disciplinas de Artes e Educação Física, sem citar
nominalmente a obrigatoriedade dessas matérias no novo currículo – o que
havia repercutido negativamente anteontem. O MEC garante, no entanto,
que elas vão permanecer em caráter indispensável pelo menos até a
definição da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que ocupará a
primeira metade do ensino médio. A segunda metade poderá ser
flexibilizada em cinco ênfases.
O secretário de Educação Básica do MEC,
Rossieli da Silva, alegou que o “mal entendido” em torno da dispensa das
duas disciplinas foi porque a pasta distribuiu aos jornalistas versão
preliminar da MP, e não a redação final, que ainda precisava de “ajustes
técnicos”. Em nota de esclarecimento, ele afirma que “não está
decretado o fim de nenhum conteúdo, de nenhuma disciplina”.
A secretária executiva do Ministério da
Educação, Maria Helena Guimarães de Castro, foi ontem na mesma linha e
ressaltou que as mudanças ainda serão discutidas com secretários
estaduais de Educação e professores. Estão previstos seminários para
tratar do tema nos próximos dois meses. “O que nós teremos é uma nova
Base Nacional Curricular Comum que será discutida e depois encaminhada
ao Conselho Nacional de Educação, para aprovação no ano que vem.” A
secretária participou, no Rio, da terceira edição do Educação 360,
encontro internacional promovido pelos jornais O Globo e Extra.
Mesmo que a MP seja aprovada no
Congresso Nacional (o que deve ocorrer em um prazo máximo de 120 dias,
sob pena de perder efeito), as escolas de todo o País ainda não serão
obrigadas a se adequar ao modelo proposto. As redes são livres para
oferecer todas as ênfases – Linguagens, Ciências Humanas, Ciências da
Natureza, Matemática ou Ensino Técnico -, apenas algumas ou até mesmo
nenhuma. Neste último caso, de acordo com a secretária executiva do MEC,
a única exigência da pasta será o cumprimento da base nacional.
O Congresso deverá reunir um dos focos
de resistência à reforma. A primeira reunião da comissão mista formada
por deputados e senadores para debater a agora chamada MP 746 deve
acontecer na semana após as eleições municipais. Ex-ministro da
Educação, o senador Cristovam Buarque (PPS-DF) procurou a líder do
governo no Congresso, senadora Rose Freitas (PMDB-ES), para pleitear a
relatoria do tema.
Mas os partidos de oposição já
anunciaram que farão obstrução a qualquer análise. A senadora Fátima
Bezerra (PT-RN) disse que o bloco vai trabalhar para que o governo
retire o texto e retome o debate via projeto de lei. Já o relator do
projeto que tramitou na comissão especial da Câmara e está aguardando
votação no plenário desde o fim de 2014, o deputado Wilson Filho
(PTB-PB), destacou que as MPs sempre estão sujeitas a modificação. Ele
ressaltou que o tema estava esquecido no Congresso. “Há muito tempo todo
mundo vem protelando. A MP não é o melhor caminho, mas coloca todo
mundo para debater”, disse.
O Ministério Público Federal também
considerou “pouco democrático” o processo. Em nota sobre o tema, a
procuradoria federal dos Direitos do Cidadão critica a decisão do
governo e sustenta que as mudanças precisam de “segurança jurídica”, sem
descartar a “eventual adoção de medidas” judiciais.
Às críticas sobre a escolha da medida
provisória como “atalho” para concretizar a reforma do ensino médio, o
ministro da Educação, Mendonça Filho, tem respondido que as mudanças
“não nasceram de forma impositiva”, mas foram discutidas e avalizadas
pelo Conselho Nacional dos Secretários de Educação, além de ter por base
o conteúdo do projeto de lei que tramita no Congresso Nacional sobre o
mesmo tema.
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