Vinte por cento da população sofrerá, em algum momento da vida, um
episódio de depressão, doença que, segundo a Organização Mundial da
Saúde (OMS), já é a mais incapacitante do globo. Embora o tratamento
convencional – psicoterapia e medicamentos – beneficie a maioria dos
pacientes, de 10% a 20% deles não responderá às intervenções. Para essas
pessoas, a estimulação cerebral profunda (ECP) tem sido apontada como
uma das abordagens mais promissoras, com a vantagem de ter poucos
efeitos colaterais.
O psiquiatra Thomas Schlaepfer, diretor da Faculdade de Medicina da
Universidade de Freiburg, na Alemanha, estuda a ECP há 15 anos e explica
que, diferentemente do que se acreditou por muito tempo, a depressão
não é apenas uma questão de alteração nas sinapses (a comunicação entre
os neurônios) e na produção dos neurotransmissores, as substâncias
cerebrais responsáveis pela sensação de prazer.
“Isso é um grande mito. Nós acreditamos que você está deprimido, toma
algumas pílulas e ela vai embora, mas esse não é o caso. A depressão é
muito mais complexa, provavelmente crônica, e está associada ao circuito
cerebral da recompensa”, afirma o pesquisador, um dos palestrantes do
Congresso Brain 2018. “A ECP estimula e ativa esse sistema. Desde a
introdução dos primeiros antidepressivos, não há nada tão revolucionário
no tratamento da doença”, acredita.
Para fazer essa ativação, o cirurgião implanta no cérebro pequenos
eletrodos, conectados ao neuroestimulador – um equipamento semelhante ao
marcapasso, posicionado sob a pele e perto da clavícula. A cada quatro
anos, o aparelho precisa ser trocado e, uma vez por mês, deve-se
recarregá-lo, um procedimento simples, feito pelo próprio paciente, com
um dispositivo externo. O marcapasso envia estímulos contínuos à área
onde está implantado – a intensidade dos pulsos, que pode variar de 20 a
200 por segundo, é definida pelo médico.
O procedimento é considerado simples e, segundo Schlaepfer, o efeito
colateral mais comum é a infecção hospitalar, o mesmo de qualquer
cirurgia. “Em minutos,o sistema de recompensa do cérebro começa a
funcionar normalmente”, diz o pesquisador, esclarecendo, contudo, que
não se trata de uma técnica “milagrosa”. “A depressão exige um
tratamento de longo prazo.”
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