Após a manifestação do Comitê de Direitos Humanos da Organização das
Nações Unidas (ONU) solicitando ao Brasil que garanta os direitos
políticos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante as eleições
presidenciais, os advogados do petista afirmaram que o órgão não fez
uma “recomendação” ao País, mas que se trata de uma “decisão” que
precisa ser cumprida imediatamente por todos os órgãos brasileiros.
Os defensores lamentaram ainda a nota do Itamaraty sobre a ONU e
disseram que o Brasil não tem a opção de cumprir ou não o comunicado,
mas deve garantir a participação de Lula na campanha eleitoral, o acesso
do petista à imprensa, a presença em debates e o acesso do
ex-presidente a membros do seu partido. O ministro das Relações
Exteriores, Aloysio Nunes, assinou uma nota afirmando que as conclusões
do comitê internacional “têm caráter de recomendação e não possuem
efeito juridicamente vinculante.”
“De que forma o Brasil vai cumprir isso não cabe a nós aqui discutir,
mas não há opção. Deve cumprir, não é uma recomendação”, afirmou o
criminalista Cristiano Zanin Martins, durante coletiva de imprensa nesta
sexta-feira, 17. Para amparar o argumento, a defesa do petista sustenta
que o País aderiu ao Pacto Internacional sobre Direitos Civis e
Políticos, concordando em seguir todas as decisões do comitê das Nações
Unidas e que isso fica sobreposto à própria legislação brasileira. “Sem a
presença do ex-presidente Lula, essas eleições serão questionadas
internacionalmente”, disse Zanin.
Também na coletiva, o ex-ministro das Relações Exteriores Celso
Amorim disse “lamentar” a manifestação do Itamaraty e argumentou que o
termo usado pelo comitê da ONU está entre “solicitar” e “exigir” que o
Brasil assegure a participação de Lula no pleito, e não “recomendar”. “O
Brasil tem duas opções: cumprir ou se colocar como um pária
internacional”, declarou o ex-chanceler.
O ex-secretário de Estado de Direitos Humanos do governo Fernando
Henrique Cardoso, Paulo Sérgio Pinheiro, também se juntou aos advogados
de Lula e disse que, se os órgãos brasileiros não cumprirem a
solicitação do comitê, o País passará por um “vexame total”. “Não
desqualifiquem essa liminar porque será um ato de total estupidez de
entendimento de um tratado internacional”, reforçou Pinheiro. Ele
classificou a nota assinada por Aloysio Nunes como “absolutamente
constrangedora”.
O comitê da ONU ainda deve discutir o mérito das alegações da defesa
de Lula, que recorreram ao órgão internacional afirmando que o processo
que levou o ex-presidente à condenação e à prisão é ilegal e tem
“violações grosseiras” contra direitos do petista “Espero que fiquem
comprovadas as violações grosseiras que vêm sendo cometidas”, disse a
advogada Valeska Martins.
Os advogados de Lula dizem ainda que a Procuradoria-Geral da
República (PGR) já se manifestou ao Supremo Tribunal Federal (STF), em
outra ocasião, sobre a “obrigatoriedade” das decisões emitidas por um
órgão internacional.
Para a banca de defensores, não é necessária nenhuma ação judicial
para pedir o cumprimento da solicitação das Nações Unidas. Os advogados
reforçaram apenas que cabe ao Itamaraty encaminhar o assunto a todos os
órgãos responsáveis por processos relacionados ao ex-presidente Lula.
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