Os 8.491 eleitores que votaram na candidata a deputada federal por
Roraima Joênia Batista de Carvalho elegeram a primeira mulher indígena
para a Câmara dos Deputados, desde que esta foi criada, em 1824 – ano em
que a primeira Constituição brasileira foi promulgada, sem qualquer
menção à existência e aos direitos dos índios brasileiros. Há 31 anos,
desde que o cacique xavante Mário Juruna deixou o Congresso Nacional, em
1987, um índio não era eleito deputado federal.
Aos 43 anos, Joênia Wapichana é pioneira da causa indígena e milita
desde 1997, quando se tornou a primeira mulher índia a se formar em
Direito, na Universidade Federal de Roraima. Em 2008, tornou-se a
primeira indígena a falar no plenário do Supremo Tribunal Federal (STF),
defendendo a legalidade da homologação dos limites contínuos da Terra
Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima. Após isso, viajou para os
Estados Unidos, onde fez mestrado na Universidade do Arizona.
“Sou o resultado de sonhos e de investimentos de outras lideranças
indígenas que planejaram ver a nós, indígenas, conquistar diversos
espaços. Do movimento indígena que luta para conquistar espaços”, disse
Joênia, ontem quarta-feira (11). “Nada
para nós foi fácil. Nem alcançar o reconhecimento de nossa terra; nem
eu me formar na faculdade de Direito; nem fazer uma defesa no STF e,
muito menos, assumir este espaço tão importante e necessário no
Congresso. Se sou uma pioneira, é graças aos povos indígenas, ao nosso
movimento e aos esforços de cada povo e pessoa que acreditou nisso.”
Ao lutar pela demarcação das terras indígenas e pelo desenvolvimento
sustentável destas reservas, Joênia decidiu disputar uma cadeira na
Câmara dos Deputados ao constatar a necessidade dos povos indígenas se
fazerem representados no Congresso. Filiou-se à Rede Sustentabilidade e
fez campanha com pouco mais de R$ 170 mil: do Fundo Partidário, recebeu
R$ 150 mil; os outros cerca de R$ 22 mil vieram de apoiadores “índios e,
principalmente, não-indígenas” que contribuíram por meio de um site
de financiamento coletivo. Ao conceder esta entrevista, por telefone,
Joênia estava às voltas com a burocracia da prestação de contas ao
Tribunal Regional Eleitoral de Roraima (TRE-RR).
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