Gina Vieira Ponte tinha 8 anos quando decidiu o que queria ser quando
crescesse: professora. Foi pelo cuidado e atenção dados a ela, criança
negra vítima de racismo na escola, pela professora Creusa Pereira, que
Gina decidiu: queria também dar atenção e, quem sabe mudar a vida de
crianças e adolescentes. Hoje, professora premiada e reconhecida em todo
o país, ela faz parte de uma categoria profissional cada vez menor.
Relatório divulgado esta semana pela Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE), mostra que a porcentagem de estudantes
que querem ser professores passou de 5,5% em 2006 para 4,2% em 2015.
O relatório Políticas Eficazes para Professores é baseado nas
respostas de estudantes de 15 anos no questionário do Programa
Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), avaliação da qual
participaram 70 países. No Brasil, de acordo com o questionário do
último Pisa, em 2015, a porcentagem dos que esperam ser professores é
ainda menor que a média dos países da OCDE, 2,4%. Os números excluem
aqueles que querem ser professores universitários e considera apenas os
que desejam ser mestres em escolas do ensino básico e médio.
“Vivemos em um país que representações sobre o que é ser professor
são muito ruins. É muito recorrente que se replique casos de professores
agredidos, de enfrentamento com alunos, com pais. Tem greve de
professores, que precisam se organizar para garantir melhores salários. O
aluno, dentro da escola, percebe o quão desafiador é para o professor
realizar o trabalho dele”, diz Gina.
Após atuar como professora por 27 anos em escolas públicas, Gina hoje
trabalha com formação de professores no Centro de Aperfeiçoamento dos
Profissionais de Educação, da Secretaria de Educação do Distrito
Federal. A educadora ganhou diversos prêmios pelo projeto Mulheres
Inspiradoras, que busca incentivar a leitura de obras literárias
escritas por mulheres e sobre mulheres.
Segundo Gina, o que a move é o contato com crianças e adolescentes.
“Aprendo muito, me sinto renovada”, diz. Mas, com muitos professores,
também passou por momentos difíceis e precisou reduzir o tempo em sala
de aula. “Adoeci porque vi que os estudantes não se engajavam. Temos um
modelo educacional esgotado, que não dialoga com a especificidade de uma
geração de nativos digitais”.
Como formadora de professores, ela busca sempre levar o
questionamento: "O que estou fazendo faz sentido? O que estou propondo
gera engajamento, envolvimento?"
Nenhum comentário:
Postar um comentário