O atraso no pagamento de indenizações bilionárias devidas às
transmissoras de energia elétrica poderá ter um impacto de até 5% na
conta de luz do consumidor no ano que vem, pressionando ainda mais a
inflação. A estimativa é do ex-diretor da Agência Nacional de Energia
Elétrica (Aneel), Julião Coelho, que também é consultor jurídico de
diversas associações do setor
A partir de 2017, segundo o especialista, o governo deve começar a
quitar dívidas com as transmissoras que, a rigor, tinha de ter começado a
pagar em 2013. Naquele ano, o governo decidiu cortar cerca de R$ 4,4
bilhões em receitas das transmissoras. A medida fazia parte das ações
para anunciar a prometida redução de 20% na conta de luz, o que de fato
ocorreu. No meio desse processo, o governo acabou usando o dinheiro dos
fundos setoriais – que pagariam esse valor – para outros fins. Como esse
rombo não sumiu, agora ele voltará para a conta de luz carregado de
juros. Hoje, seu valor é estimado entre R$ 9 bilhões e R$ 10 bilhões,
por causa dos reajustes acumulados nos últimos três anos.
“O que aconteceu é que, na verdade, retiraram essa receita devida às
transmissoras, para reduzir a tarifa de forma artificial”, disse Julião.
“Essa é a arte da pedalada na conta de luz. Ouvimos que tinham baixado a
tarifa, quando na verdade só estavam fazendo um deslocamento temporal
do custo.”
A decisão de fazer o repasse bilionário devido às transmissoras de
energia para a conta de luz do consumidor foi tomada no início deste
ano, depois que o Tesouro Nacional se recusou a pagar a conta, tendo em
vista o déficit acumulado nos últimos anos. A previsão é de que os juros
da dívida com as transmissoras sejam pagos em até oito anos. Já o valor
original da indenização pode ser pago até o fim da vida útil dos
equipamentos.
Apesar de o setor elétrico ter retomado seu equilíbrio estrutural de
oferta de energia (reflexo da demanda menor, por causa da crise
econômica e da melhora nos níveis dos reservatórios das usinas
hidrelétricas), financeiramente o setor ainda está longe de retomar sua
normalidade. “A judicialização do setor é resultado desse cenário
conturbado e desequilibrado, e não a causa dele”, comenta o
especialista.
Nenhum comentário:
Postar um comentário