Acusado pelo ex-ministro da Cultura
Marcelo Calero de ter feito pressão para que o Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (Iphan) aprovasse um empreendimento em
Salvador, o ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima,
admitiu, em entrevista ao Estado, ter tratado sobre o tema, mas disse
que o agora ex-colega de Esplanada contou “verdades e inverdades”. “Qual
a ilegalidade que há nisso? Qual a imoralidade que há em tratar desse
tema com um colega meu?”, questionou Geddel.
O senhor foi acusado pelo ex-ministro Calero de pressioná-lo em relação ao Iphan.
Lamento profundamente essa declaração do Calero, com quem eu sempre
tive uma relação afável e tranquila. Não tive nenhum desentendimento com
Calero, nenhum bate-boca com ele. Ele diz uma verdade e muitas
inverdades.
Quais seriam as inverdades?
As inverdades é que eu teria dito, por exemplo, que iria pedir a
cabeça da presidente do Iphan, que eu poderia tratar com o presidente da
República. Eu nunca tratei desse tema com o presidente da República.
Nada, absolutamente nada. Aí há um certo exagero.
E qual seria a verdade?
A verdade é que eu tratei do tema com ele sob a óptica de que:
‘Calero, tem que tomar cuidado com isso. Esse assunto está em discussão
na Bahia há muito tempo. Está judicializado’. Já tá na Justiça há muito
tempo e isso termina gerando insegurança política para quem comprou
unidade, isso termina gerando desemprego na cidade, mas sem nenhuma
pressão indevida. Tanto não há pressão que a posição ao final e ao cabo
que prevaleceu foi a dele. Não estou entendendo e me surpreendo que
venha isso agora. A posição que prevaleceu, apesar de eu ter uma visão
diferente desse processo, mesmo ele judicializado, foi a dele. Os
incorporadores vão buscar agora reparos tanto administrativos tanto na
Justiça. A posição dele prevaleceu.
Houve ou não houve pressão?
Que pressão é essa? Tratei com o Calero com tranquilidade, por
telefone, até porque não tenho medo de tratar por telefone, de estar
grampeado. O que eu trato por telefone eu trato publicamente. Qual a
ilegalidade que há nisso? Qual a imoralidade que há em tratar desse tema
com um colega meu? Nunca tratei desse tema com o Iphan, nunca fiz
pressão no Iphan. Tratei com ele, nunca tive briga com ele.
Mas o senhor tem esse apartamento?
Tenho uma promessa de compra e venda de um apartamento no
empreendimento de 2015, no 23º andar. Adquiri um apartamento depois de
morar 22 anos no meu antigo apartamento. Eu pretendia mudar com minha
família. Mas isso não me tira a legitimidade. Aliás, me dá legitimidade
para mostrar que o que estava se fazendo era um equívoco.
E o Iphan só autorizou a construção até o 13º andar?
Isso foi agora! O Iphan da Bahia, a prefeitura, todos deram a licença. A obra foi lançada, várias pessoas compraram.
O ex-ministro Calero afirma que o Iphan da Bahia teria liberado a
licença do projeto porque o superintendente regional teria sido indicado
pelo senhor.
Não é verdade. A pessoa que está lá não foi indicada por mim. Essa
licença foi dada pelo Iphan, me parece, em 2014, quando eu estava na
oposição ao governo federal, ao governo baiano, em todos os lugares.
Por que o senhor acha então que ele deixou o cargo, se não havia pressão?
Não tenho a menor ideia. Agora pare e pense uma coisa: a minha
pressão, segundo ele, não deu resultado. A posição dele foi a que
prevaleceu.
O senhor conversou com o presidente Michel Temer. O que ele falou disso?
Falei de manhã com Temer. Eu liguei para o presidente e ele disse:
‘Apresente sua resposta com tranquilidade’. Não tem nada de problemático
disso não, só o desgaste. Recebi dele o maior apoio. Sereno, tranquilo,
ele compreende perfeitamente.
Temer pediu o cargo?
Não. Deixar cargo por isso? Pelo amor de Deus!
O senhor não se sente desconfortável de continuar no governo?
Por que desconfortável? Por causa de uma fala de um ex-ministro que
não está falando a verdade inteira? Eu tratei do tema com absoluta
transparência. O que me deixaria desconfortável? Onde é que tem
maracutaia, problema, irregularidade nisso? Lamento que o ministro saia
nessas circunstâncias. Via Estadão Conteúdo.
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