O Senado vai discutir a legalização do consumo da maconha
depois que mais de 20 mil pessoas apoiaram a iniciativa popular que
sugere a regulação do seu uso recreativo, medicinal e industrial. A
proposta prevê regulamentar o consumo da maconha, como já ocorre com
bebidas alcoólicas e cigarros. Também permitiria o cultivo caseiro, o
registro de clubes de cultivadores e o licenciamento de estabelecimentos
de cultivo e venda no “atacado e varejo”. A sugestão alcançou o apoio
mínimo menos de uma semana depois de entrar no site do Senado. Desde o
ano passado, a página do Senado na internet permite que qualquer pessoa
sugira projetos ao Congresso. Mas, para que comecem a tramitar, é
preciso do apoio mínimo de 20 mil internautas – além de serem aceitos
pelo senador que for relatar a matéria.
O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) foi
escolhido relator da proposta de regulação da maconha. Ele disse que o
Congresso “não pode se negar” a discutir o tema, mesmo ciente da
polêmica que ele provoca. O senador vai realizar audiências na Comissão
de Direitos Humanos, onde está a sugestão popular, ouvindo os diversos
segmentos da sociedade como religiosos e a comunidade científica. “Não
tenho simpatia pela regulamentação, mas não tenho preconceito contra.
Não me recusarei a discutir esse tema, vou ouvir o máximo de pessoas
sobre essa proposta”, afirmou o senador.
Autor
O autor da sugestão popular é André Kiepper, analista de gestão em saúde
da Fundação Oswaldo Cruz. Ele disse que encaminhou a ideia ao Senado
por estar convencido de que a regulação do uso da maconha é necessária
tanto para o uso medicinal como uma alternativa para a redução da
criminalidade no país. “A lei de regulação da maconha é um ato de
compaixão. Hoje, já sabemos que a maconha alivia o sofrimento de muita
gente. Gente que está em tratamento de quimioterapia, que sofre de
convulsão, epilepsia”, afirmou.
O analista disse que, se o país
estabelecer regras de produção, industrialização e comercialização do
uso da maconha, o mercado ilegal que oferece a droga vai perder espaço.
“A regulação da maconha reposiciona um bem de consumo que está sob o
poder de facções criminosas e o coloca sob poder do Estado, nas mãos de
empreendedores legítimos”, afirmou. Kiepper disse esperar que a Comissão
de Direitos Humanos do Senado discuta o tema com amplitude e “calma”, a
exemplo do que ocorreu no Uruguai que legalizou o consumo da maconha no
ano passado.
O analista considera necessário discutir
o registro e a fiscalização de todas as fases de produção da maconha,
desde o cultivo até a sua distribuição para venda. Ele lembra que, no
Uruguai, a compra é limitada a maiores de idade e há regras de uso.
“Qualquer tipo de propaganda ou publicidade são proibidas. A lei permite
o cultivo caseiro e a criação de clubes de auto cultivadores por uma
questão de sustentabilidade e praticidade”, afirmou.
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