Rixas e conflitos territoriais, abandono
da escola, trabalhos precários e famílias econômica e psicologicamente
frágeis são algumas das marcas que envolvem adolescentes que foram
assassinados ou que cometeram homicídios em Fortaleza. As informações
estão nos dados preliminares de pesquisa feita pelo Comitê Cearense de
Prevenção de Homicídios, apresentada hoje (15). O colegiado reúne
parlamentares da Assembleia Legislativa do Ceará, representantes do
governo estadual, da prefeitura de Fortaleza e organizações da sociedade
civil.
Pesquisadores visitaram bairros de
várias regiões da capital cearense, sobretudo na periferia, e unidades
de internação de jovens infratores e aplicaram 385 questionários entre
familiares de adolescentes que foram mortos e jovens que cometeram
homicídios e cumprem medidas socioeducativas. Embora as histórias sejam
distintas, muitas situações se repetem entre os entrevistados. Entre os
adolescentes assassinados, por exemplo, 73% foram mortos no bairro ou
território onde moravam.
“Muitas das mães ouviram os tiros que
mataram seu filho”, disse a pesquisadora Camila Holanda, integrante da
equipe técnica do comitê. Para ela, os pontos em comum nas trajetórias
desses jovens revelam a existência de uma adolescência abandonada,
inclusive pelos serviços públicos. Entre os meninos mortos, por exemplo,
74% havia deixado a escola. Entre os que cometeram assassinato, 64%
estavam na mesma situação.
O relator do comitê, deputado estadual
Renato Roseno (PSOL), disse que as mortes que tiveram adolescentes como
vítimas ou autores subiram muito nos últimos 16 anos em Fortaleza. O
Mapa da Violência revela que capital cearense tem a mais alta taxa de
homicídios de crianças e adolescentes do Brasil.
“A morte não é um evento solto, mas um
processo que começa no abandono: vulnerabilidade individual e familiar
pela ausência de políticas públicas e pelo território onde moram. Há
muitos sinais de alerta, como o acesso ao mercado de armas, ameaças que
não são investigadas e a completa ausência de resposta aos homicídios
existentes”, listou.
Roseno disse que o objetivo da pesquisa,
que também vai abranger municípios da região metropolitana de Fortaleza
e do interior do estado, é entender os homicídios para além do senso
comum e direcionar políticas públicas de prevenção.
Contexto familiar
O contexto familiar também diz muito
sobre as mortes que envolvem adolescentes em Fortaleza e revela omissões
e negligências em série. O coordenador do Fundo das Nações Unidas para a
Infância (Unicef) para o Ceará, Rio Grande do Norte e Piauí, Rui
Aguiar, explicou que muitas das mães de adolescentes vítimas de
homicídio engravidaram precocemente e abandonaram os estudos. A pesquisa
revela, por exemplo, que 85% dos adolescentes que cumprem medidas de
internação têm a mãe como principal responsável familiar.
“Grande parte das casas tem como renda
principal a renda da mulher, que muitas vezes foram adolescentes
grávidas, abandonaram a escola, perderam oportunidades e hoje têm
empregos precários ou sobrevivem apenas com o Bolsa Família”, ponderou.
Segundo Aguiar, a prevenção a homicídios na adolescência deve envolver
investimentos robustos em políticas para as mulheres. Via PnoAR.
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