Por Josias de Souza
Um ano e três meses depois de aprovar o
impeachment de Dilma Rousseff, a Câmara se reune nesta quarta-feira para
decidir o futuro de Michel Temer. E os mesmos deputados que se
enrolaram na bandeira da moralidade para justificar a deposição de Dilma
revelam-se agora dispostos a mandar a ética às favas para livrar Temer
de um processo por corrupção que poderia conduzi-lo do Planalto para a
cadeia. As ruas vazias indicam que o cinismo prevaleceu sobre a revolta
popular.
Manejando as mesmas armas usadas por Dilma —cargos,
verbas e um apelo ao instinto de autoproteção contra a Lava Jato— Temer
conseguirá sepultar esta primeira denúncia da Procuradoria contra ele. A
oposição manobra para protelar a votação. Mas não dispõe dos 342 votos
necessários para manter a investigação viva. Temer sobreviverá. A dúvida
é quanto ao tamanho da fragilidade da sua Presidência. Isso será
revelado pelo placar da votação.
O brasileiro continua de saco
cheio. A taxa de aprovação de Temer oscila entre 5% e 7%, dependendo da
pesquisa. Mas a insatisfação se trancou em casa. O silêncio das ruas
virou parte do escândalo. Diante da perspectiva de ser presidido por
Rodrigo Maia, o eleitor optou pela inércia. Conhecido como país do jeito
pra tudo, o Brasil vai se revelando um país que não tem jeito. É como
se existisse uma falha estrutural —uma urucubaca congênita que frustra
todas as tentativas de reformar a nação.
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