A espera de até oito horas na fila para retirar medicação é sinônimo
da manutenção do tratamento para o filho de 4 anos, afirma a dona de
casa Ana Paula Lobato. O pequeno Davi, que requer cuidados especiais,
tem uma doença congênita que afeta o coração e o pulmão e o faz viver em
uma espécie de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) na própria casa.
Usado no tratamento da hipertensão arterial pulmonar, a bosentana é
fornecida gratuitamente pelo governo do Distrito Federal todo mês à
criança e pode custar até R$ 4,3 mil uma única caixa do medicamento.
Hoje
(8), data em que é lembrada o Dia Nacional de Luta por Medicamentos,
Ana Paula e outros pacientes crônicos relatam dificuldades no acesso a
medicamentos, além do frequente desabastecimento no estoque das
farmácias de alto custo no DF.
“Há situações em que venho aqui e
não encontro o remédio, preciso retornar e enfrentar a fila de quatro a
oito horas para conseguir receber o medicamento. Essa espera é imensa,
cansativa, mas ainda agradeço por ter acesso a esse remédio para o meu
filho considerando a atual situação do país”, avalia Ana Paula.
Para
Vanuza Ferreira a situação é semelhante. Há duas décadas, a funcionária
pública depende a política de distribuição de medicamentos para
garantir a saúde do filho, o estudante de farmácia de 21 anos, Mario
Albert. O jovem tem fibrose cística, uma doença genética, crônica, que
afeta principalmente os pulmões, pâncreas e o sistema digestivo.
Mensalmente, a mãe de Mario Albert enfrenta a fila quilométrica para
receber um conjunto de sete medicamentos estimados por Vanuza em R$ 9
mil.
“Não seria viável tratar meu filho sem esse tipo de
assistência, com os medicamentos ele tem uma vida normal. Quando não
encontro o remédio, preciso recorrer a associação de fibrose cística da
qual faço parte. Sempre nos ajudamos quando há falta de algum
medicamento. Não me importo de esperar na fila, o remédio significa a
vida do meu filho e, apesar de atrasos, nunca ficamos sem”, diz Vanuza.
Segundo
a Secretaria de Saúde do Governo do Distrito Federal, as Farmácias de
Componentes Especializados (Alto Custo) fornecem 200 medicamentos. No
momento, 58 destes remédios estão em falta, mas segundo o órgão “todos
com processo de compra em andamento”.
A professora Margareth Lima
tem psoríase grave, a doença autoimune que atinge a pele é
caracterizada por manchas, que se localizam preferencialmente junto à
raiz dos cabelos, nos cotovelos e nos joelhos. Para tratar a doença,
ela faz uso contínuo do medicamento injetável etanercepte. O custo da
caixa, em média, R$ 9.621,40 é inviável para o orçamento da professora.
“Todo
mês é uma luta. Já fizeram mudanças no atendimento da farmácia, mas o
tempo de espera continua muito longo. Vejo pessoas muito doentes e
idosos chegando às 6h30 para conseguir pegar a senha de atendimento, que
só se inicia às 8h. Hoje em dia, os funcionários já nos avisam na
própria fila se tem o medicamento ou se está em falta, o que nos faz
poupar muito tempo. Demora muito, mas o atendimento é bom e eu prefiro
enfrentar fila e sair com medicamento na mão do que ficar sem
tratamento”, conta a professora.
Nas duas farmácias (Asa Sul e
Ceilândia) são atendidos cerca de 30 mil doentes crônicos. Todos os
dias, das 8h às 17h, mais de mil pacientes são atendidos, em uma média
de 50 pessoas por hora.
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