Um estudo de pesquisadores do Departamento de Genética e Biologia
Evolutiva do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo e do
Instituto de Pesquisas Veterinárias Desidério Finamor, em Eldorado do
Sul (RS), identificou mecanismos de resistência do carrapato bovino à
ação da ivermectina, uma das drogas mais usadas no combate às
infestações por carrapato.
A pesquisa foi feita com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de São Paulo (Fapesp) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq).
De acordo com a pesquisadora Tatiana Teixeira Torres, vários
mecanismos podem estar envolvidos na resistência do no carrapato bovino à
ivermectina, incluindo a capacidade fisiológica de desintoxicar ou
tolerar substâncias tóxicas. Os mecanismos metabólicos da desintoxicação
são mediados por famílias de enzimas e também por proteínas
específicas, escolhidos pelo processo da seleção natural, disse Tatiana.
O trabalho mostrou que os carrapatos que não contavam com a ação de
tais enzimas e proteínas morriam em presença da ivermectina. Já aqueles
que produziram essas substâncias sobreviveram e produziram mais
descendentes, que acabaram por formar as linhagens resistentes. A meta
do estudo foi identificar quais proteínas teriam papel predominante na
desintoxicação da ivermectina em uma linhagem multirresistente do
carrapato bovino.
Segundo a Fapesp, para testar a influência de tais proteínas na
resistência, os pesquisadores usaram inibidores específicos para cada
uma das famílias proteicas e compararam as taxas de mortalidade em
tratamentos com ivermectina na presença e na ausência dos inibidores.
"Tal conhecimento pode auxiliar na busca de novas estratégias para lidar
com a resistência à ivermectina no campo. Por exemplo, os inibidores
testados, ou outras moléculas de efeito análogo, poderiam ser
introduzidos em formulações comerciais de ivermectina”, disse Tatiana.
De acordo com a Fapesp, os prejuízos da pecuária com parasitas
externos (que se instalam fora do corpo do hospedeiro), como o carrapato
bovino, chegam a US$ 3,2 bilhões ao ano (23,2%). A mosca-dos-chifres
provoca perda de US$ 2,5 bilhões (18,3%), enquanto o berne, a
mosca-da-bicheira e a mosca-dos-estábulos causam prejuízo estimado em
US$ 1 bilhão (7,5%).
“A infestação ocorre no momento em que o carrapato se alimenta com
sangue do animal. É quando o inseto inocula substâncias
anti-hemostáticas, anti-inflamatórias e imunomodulatórias contidas em
sua saliva. Essas substâncias modificam a fisiologia no local da
picada, causando perda de sangue, redução na imunidade do hospedeiro e
irritação. O estresse do animal causado pelas infestações conduz à
interrupção da alimentação e, consequentemente, à perda de peso e
à redução da fertilidade”, explicou Tatiana.
O controle do carrapato bovino é feito com a aplicação de
pesticidas, o que conduz, invariavelmente, à seleção de linhagens
resistentes. Hoje,
no Brasil, o carrapato bovino apresenta resistência, em maior ou menor
grau, a todos os pesticidas comerciais empregados no controle da praga.
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