O Instituto Butantan está iniciando testes em humanos de uma pomada
contra a picada da aranha-marrom (Loxosceles), cujo veneno pode causar
necrose na pele, falência renal e até morte. O medicamento é a base de
tetraciclina, substância usada como antibiótico. Os testes já tiveram
início em Santa Catarina, estado brasileiro com grande ocorrência de
picadas do aracnídeo.
“Foi uma longa jornada de pesquisa sobre a ação da toxina até o
desenvolvimento da pomada. Há 20 anos conseguimos, pela primeira vez,
isolar e fazer o sequenciamento da proteína mais importante do veneno da
aranha-marrom. Com isso, estudamos os mecanismos de ação da toxina e
desenvolvemos inibidores já patenteados que poderão ser usados em
estudos de estrutura e função e, eventualmente, como terapia”, disse
Denise Tambourgi, pesquisadora do Instituto Butantan e do Centro de
Toxinas, Resposta Imune e Sinalização Celular, um dos Centros de
Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids) da Fundação de Amparo à Pesquisa
do Estado de São Paulo (Fapesp).
Além de causar lesões graves na pele, que podem durar meses até serem
curadas, a picada provoca, em alguns casos, efeitos sistêmicos, como
hemólise (destruição dos glóbulos vermelhos), agregação plaquetária,
inflamação e falência renal, o que pode levar ao óbito do paciente.
A picada da aranha-marrom é indolor e a reação local ocorre
imediatamente. Normalmente, as vítimas só procuram ajuda quando a lesão
na pele já está instalada. “A necrose dos tecidos não é apenas
consequência do veneno, mas de uma cascata de reações do próprio
organismo, acionadas pela principal proteína da toxina”, disse
Tambourgi.
Segundo o Sistema de Informação de Agravos de Notificação, do
Ministério da Saúde, em 2016 foram registrados 173.630 casos de
acidentes com animais peçonhentos no Brasil, dos quais 7.441 foram por
picadas de aranhas-marrons.
O Instituto Butantan já produz o soro para picadas de aranha-marrom,
no entanto, a produção é limitada. “São aranhas pequenas, de no máximo
três centímetros, portanto conseguimos pouco veneno e são necessárias
centenas de exemplares para se produzir o soro”, disse Tambourgi.
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