Nos bastidores, o discurso é de que o presidente Michel Temer
(MDB) estuda lançar sua candidatura ao Planalto principalmente para
defender o seu “legado”, já que até o momento ninguém se dispôs a
fazê-lo. Mas entre os que planejam as eleições no MDB a razão é outra:
vender mais caro o apoio em um eventual segundo turno. Afinal, mesmo que
haja uma onda de renovação na política, dificilmente a legenda deixará
de ser um dos partidos que mais elegem parlamentares. E é esse apoio no
Congresso Nacional que os medebistas querem leiloar, conforme relataram
ao EL PAÍS, três membros que circulam entre a cúpula da legenda. O alvo
favorito seria um dos partidos de centro-direita que pode chegar na
segunda etapa eleitoral.
Hoje, o partido possui a maior bancada da Câmara dos Deputados
(59) e do Senado (20). Nas últimas cinco eleições tem eleito entre 65 e
84 deputados e de 15 a 24 senadores. Ou seja, possivelmente o MDB, ou
parte dele, acabará fazendo parte do futuro Governo federal, é o que tem
ocorrido desde a redemocratização do país, em 1988.
O presidente e seu entorno sabem que, mesmo que a intervenção federal na segurança pública no Rio de Janeiro
tenha sucesso ou que a economia demonstre sinais intensos de
recuperação dificilmente conseguiria se reeleger. Temer já alcançou a
marca do mandatário mais impopular do Brasil, quando atingiu os 3% de
popularidade (hoje tem 6%) e, na última pesquisa Datafolha de janeiro,
obteve apenas 1% das intenções de votos.
Os balões de ensaio lançados nos últimos dias pelo marqueteiro de Temer, Elsinho Mouco, e pelo presidente da legenda, Romero Jucá,
não foram em vão. Seus objetivos eram medir o nível de apoio que a
proposta teria no meio político e esfriar os ânimos de dois pretensos
candidatos da base governista, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD).
Os resultados, contudo, não foram como se esperava. A entrevista que Mouco deu ao jornal O Globo,
em que dizia que Temer “já era candidato” após a intervenção no Rio
gerou dois desmentidos. Um do próprio marqueteiro e outro do porta-voz
da Presidência da República, Alexandre Parola. Mouco afirmou que suas
falas representavam apenas sua própria vontade, não a de seu chefe. Já
Parola disse que o presidente não se pauta na agenda eleitoral para
tomar suas decisões. “O governo seguirá sua trajetória sem pautar-se
pela busca do aplauso fácil, mas na rota firme das decisões corajosas
que buscam enfrentar e resolver os dramas verdadeiros de nossa Nação,
sem nenhuma significação eleitoral”.
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