Aos 57 anos, Ana Rosa da Silva Santana começa a desenhar as primeiras
curvas das letras de seu nome. As mãos trêmulas mostram uma insegurança
ainda persistente. “Mas eu vou vencer, sou uma guerreira”, afirma.
Nascida em Barreiras, na Bahia, Ana Rosa nunca frequentou uma escola.
“Fui criada por pessoas que achavam que escola era perda de tempo. Eu
fugia para ir para a escola e quando voltava para casa eu apanhava.
Nunca tive oportunidade de aprender”, lembra emocionada. Atualmente,
gari no Serviço de Limpeza Urbana de Brasília, atividade que mantém há
sete anos, ela precisou fazer “bicos” ao longo de muito tempo para
sobreviver e sustentar os filhos. O primeiro, nascido quando Ana Rosa
tinha apenas 12 anos de idade.
Ana integra agora a atual turma de 50 garis contratados pela empresa
Sustentare que decidiram arregaçar as mangas e recuperar o tempo perdido
nos estudos. O projeto que vem sendo desenvolvido há cinco anos pela
empresa já alfabetizou mais de 160 funcionários que prestam serviço à
companhia local.
A iniciativa é mantida em parceria. Enquanto a Sustentare viabilizou o
mobiliário das salas de aulas e é responsável por custear os
alfabetizadores, a Universidade Católica de Brasília (UCB) fornece a
metodologia e os materiais escolares e o Serviço de Limpeza Urbana do
Distrito Federal (SLU-DF) cedeu o espaço físico e autorizou que os
alunos estudassem durante o horário de trabalho, contribuindo para
reduzir a evasão escolar.
“O estudo vai trazer muita coisa boa para mim, posso ser alguém na
vida, ajudar um neto que precise em algum trabalho de escola”, disse.
Mas, quando o assunto é o sonho de vida, Ana Rosa não hesita: “Eu sou
salgadeira, mas ainda não sou profissional. Quero aprender mais e também
fazer todos os tipos de doces e bolos. Poder ler receitas e dicas vai
ajudar muito”, contou.
O curso deste ano começou na última quinta-feira
(4). Geílson Coelho, 29 anos, também se matriculou para buscar novas
oportunidades. Diferentemente da colega mais velha de classe, Coelho
estudou até os 14 anos, mas não retornou para a escola até então.
“Espero agora melhorar, espero passar mais coisas para meus filhos
futuramente. Sinto falta da escrita. Lamento ter parado cedo e não ter
voltado depois. Agora quero ser um confeiteiro e a escrita ajuda
muito”, disse, se emocionando a lembrar da mãe de criação que sempre o
incentivou a retomar os estudos.
Após a conclusão do curso, os alunos participam de uma cerimônia de formatura, com direito a traje de gala.
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