Ao telefone, uma voz aliviada não parecia transparecer todo o terror
sofrido por X., de 17 anos, morador de São Paulo. Na última sexta-feira,
o adolescente viu a morte bem de perto. E o pior: pelas mãos do próprio
pai, com quem vivia desde os dois anos de idade, quando foi abandonado
pela mãe, que fugiu sem nunca mais dar notícias. O motivo? Era espancada
diariamente pelo marido.
— Passei 15 anos sem ter notícias dela. Até que pedi a um amigo, que
trabalha no Poupa Tempo, para que tentasse achar algumas informações. Em
outubro, a encontrei e, desde então, vinha frequentando a casa dela —
conta X., que relatou a agressão sofrida em um post no seu perfil no
Facebook. Detalhe: o rapaz decidiu não registrar o caso pelo fato de o
pai ser arrimo de família, sustentando, além de X., outras três crianças
(de 4, 6 e 11 anos).
Na sexta-feira, o adolescente voltava de um terreiro umbandista que
frequenta, quando chegou em casa, no bairro do Grajaú, e foi confrontado
pela madrasta, que teria insinuado que X. estivesse sob efeito de
drogas. Com a chegada do pai, as coisas pioraram.
— Ela me desafiou e me jogou contra ele. Cheguei a um ponto de pressão
que não consegui sustentar. Entrei no quarto dele e contei a ele que era
gay — relembra X., logo depois iniciando o relato sobre a sequência de
violências sofridas.
Socos, chutes, tentativa de enforcamento, golpes com uma colher de pau e
chibatadas nas costas com uma alça de bolsa em brasa. Mas o mais grave
ainda estava por vir.
— Ele insistiu para que minha madrasta pegasse uma faca. Eu sabia que
ele ia me matar. Ela abriu o portão de casa e pediu para que fugisse,
pois também sabia que eu iria morrer — conta X., que conseguiu escapar
das garras do pai ao pular de uma sacada da casa, com pouco mais de três
metros de altura. Na queda, quebrou uma das mãos.
— Ainda no sábado, criei coragem e voltei para buscar minhas coisas. Meu
pai não estava em casa, mas minha madrasta me passou o recado de que
ele não queria me ver nunca mais — relata o adolescente, que, no
domingo, se mudou definitivamente para a casa da mãe, no Centro de São
Paulo
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