Era início da década de 1980, em Salvador, Bahia. Eduardo
Calliga, hoje com 57 anos de idade, deixava a adolescência para se
transformar em um jovem adulto, quando passou a ter alucinações e
delírios. O diagnóstico correto – esquizofrenia, doença grave que
acomete 21 milhões de pessoas em todo o mundo, de acordo com a
Organização Mundial da Saúde (OMS) – demorou anos a ser fechado. Nesse
intervalo, o jovem foi submetido a internações compulsórias em diversas
instituições psiquiátricas.
Ele ressalta que, em sua trajetória de internações e falta de
diagnóstico correto, parte das tribulações poderia ter sido evitada caso
sua família soubesse lidar com o distúrbio. Dados da OMS mostram que,
no caso da esquizofrenia, mais da metade dos pacientes não obtém o
tratamento apropriado, proporção que atinge 90% em países de renda média
e baixa.
Anos depois, aos 40 anos, ele tentava constituir a própria família,
com o nascimento da filha. Mas o receio de ser um fardo para quem amava
afastou Calliga da companheira e da menina, com quem conviveu até que
completasse seu terceiro ano de vida.
Apesar de ter começado a construir uma vida com a qual sonhava, o
sentimento de desamparo era maior e ele decidiu ir morar na rua. Calliga
não achava que a família poderia ajudá-lo e avaliava que o Estado não
provia suas necessidades.
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