Luana Thalia e Daniel Santos, ambos de 16 anos. |
Quem chega de metrô a Itaquera, no extremo leste da cidade de São Paulo,
avista da janela do trem o Itaquerão. O estádio, que receberá a partida
de abertura da Copa do Mundo de 2014, em 12 de junho, dá as boas-vindas
a quem visita o bairro – e deverá se transformar, ao longo dos próximos
meses, numa das imagens mais conhecidas do Brasil fora do país. A seu
redor, Itaquera, lar de mais de 204 mil paulistanos, sofre profundas
transformações. Além das obras do estádio, o aumento do poder de compra
da nova classe média alterou a fisionomia do lugar. Atraído pelo novo
momento econômico, o Shopping Metrô Itaquera foi o primeiro grande
empreendimento a surgir na região, em 2007. Na semana passada, porém, a
área comercial de 43.000 metros quadrados, erguida de frente para a
arena, ganhou o noticiário de forma totalmente inesperada – sem nenhuma
ligação com a Copa ou com a prosperidade da nova classe média. A palavra
que saiu de Itaquera e ganhou o país foi “rolezinho”.
Foi assim: 6 mil jovens, a maioria deles com idade entre 14 e 17 anos,
responderam pelo Facebook a um convite para se reunir e ouvir funk
ostentação – variante do ritmo que exalta o consumo e as roupas de grife
– no estacionamento do Shopping Metrô Itaquera, em 7 de dezembro. O
shopping é o principal ponto de lazer da região. É ali que os
adolescentes se encontram corriqueiramente, para ver os amigos, comer no
McDonalds e ir ao cinema. Quando a reunião no estacionamento começou, a
segurança do shopping tentou dispersar a garotada. Mas eles, em lugar
de ir embora, rumaram para o interior do prédio. Quem lá estava pensou
tratar-se de um arrastão, e a confusão se instalou. E os brasileiros
ouviram falar pela primeira vez do rolezinho, um fenômeno cultural que
ocorre rotineiramente na periferia de São Paulo e que, até então, havia
passado despercebido. Depois da correria no Shopping Metrô Itaquera,
tudo mudou. O rolezinho foi sequestrado ideologicamente e virou palavra
de ordem. Radicais de um lado viram uma tentativa de integração forçada
dos excluídos. Radicais do outro lado tomaram o grupo de jovens como uma
ameaça social, um exemplo de baderna a ser contida – pela força, se
necessário. A rigor, não se trata nem de uma coisa nem de outra.
O rolezinho, segundo ÉPOCA apurou em longas conversas com seus
participantes e organizadores, é um encontro de jovens marcado pelas
redes sociais. Preferencialmente o Facebook. Pela rede social, milhares
deles combinam uma data para ir ao shopping “curtir, tumultuar e tirar
várias fotos”. O rolezinho começa na internet, e toda a sua mecânica
depende da rede. Quem cria o evento – geralmente um garoto desconhecido –
se ocupa de convidar gente famosa no bairro: meninas e meninos cujos
perfis na rede social têm até dezenas de milhares de seguidores, que são
chamados de “ídolos”. “Para funcionar, o rolezinho precisa ter o
ídolo”, diz Matheus Lucas Bernardo, de 16 anos e mais de 30 mil fãs
virtuais no Facebook. “Se chamar o ídolo, as meninas virão. E os meninos
virão atrás das meninas.” Matheus foi ao shopping encontrar as garotas
que o assediam nas redes sociais, suas fãs. Basta passear pelas fotos do
garoto no Facebook para cruzar com declarações apaixonadas das meninas,
que elogiam cada comentário que ele publica: “Elas me dão presentes.
Uma já mandou um tênis de R$ 600”, diz ele. Com outros dois amigos, foi
aos dois eventos marcados no Shopping Metrô Itaquera, mas diz que não
quer mais participar – durante o último rolezinho, o boné de um amigo
dele foi furtado. Via ÉPOCA.
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