Um preso político, tratado como inimigo pela Justiça, afastado da
convivência com o povo brasileiro, candidato à Presidência para acabar
mais uma vez com o "sofrimento do povo brasileiro", é como o
ex-presidente Luiz Inácio Lula se apresentou nesta sexta-feira, em uma
carta enviada a militantes no lançamento da sua pré-candidatura ao
Palácio do Planalto.
"Não tenho dúvida de que me puseram aqui para
me impedir de conviver com minha grande família: o povo brasileiro.
Isso é o que mais me angustia, pois sei que, do lado de fora, a cada dia
mais e mais famílias voltam a viver nas ruas, abandonadas pelo Estado
que deveria protegê-las", escreveu o ex-presidente na carta lida pela
ex-presidente Dilma Rousseff em Contagem, zona metropolitana de Belo
Horizonte.
Preso há dois meses em Curitiba por causa de uma
condenação na operação Lava Jato, Lula não compareceu ao ato montado
pelo PT para mostrar unidade do partido em torno da sua candidatura. No
palco, as principais lideranças do partido, parlamentares, e quatro dos
cinco governadores petistas --Camilo Santana (CE) foi o único que não
compareceu.
Cerca de 2 mil pessoas lotaram um auditório para ouvir quase três horas de discursos de lideranças petistas.
Quando Dilma começou a ler o que Lula batizou de "Manifesto ao Povo Brasileiro", o silêncio tomou conta do local.
"Contra
todas as injustiças, tenho o direito constitucional de recorrer em
liberdade, mas esse direito me tem sido negado, até agora, pelo único
motivo de que me chamo Luiz Inácio Lula da Silva. Por isso me considero
um preso político em meu país", escreveu o ex-presidente.
"Quando
ficou claro que iriam me prender à força, sem crime nem provas, decidi
ficar no Brasil e enfrentar meus algozes. Sei do meu lugar na história e
sei qual é o lugar reservado aos que hoje me perseguem. Tenho certeza
de que a Justiça fará prevalecer a verdade."
Mais uma vez, Lula
afirmou que o condenaram sem provas, sem o direito de defesa e sem ser
tratado como um cidadão comum, mas como inimigo.
"É para acabar
com o sofrimento do povo que sou novamente candidato à Presidência da
República. Tive muitas candidaturas em minha trajetória, mas esta é
diferente: é o compromisso da minha vida. Quem teve o privilégio de ver o
Brasil avançar em benefício dos mais pobres, depois de séculos de
exclusão e abandono, não pode se omitir na hora mais difícil para a
nossa gente", disse.
"Sei que minha candidatura representa a
esperança, e vamos levá-la até as últimas consequências, porque temos ao
nosso lado a força do povo."
Lula lidera as pesquisas de intenção
de voto para o Planalto na eleição de outubro, mas pode ficar impedido
de concorrer devido à Lei da Ficha Limpa que torna inelegíveis
condenados por órgãos colegiados da Justiça, como aconteceu com o
petista.
No texto, Lula diz que quer ser presidente porque já
provou que o Brasil pode ser um país melhor para todos e que seu governo
foi "um tempo de paz e prosperidade, como nunca antes tivemos na
história".
"Acredito, do fundo do coração, que o Brasil pode
voltar a ser feliz. E pode avançar muito mais do que conquistamos
juntos, quando o governo era do povo", escreveu.
O ex-presidente
avançou ainda no que deve ser seu programa de governo, caso possa manter
sua candidatura. Afirma que impedirá a privatização da Eletrobras, do
Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal. Afirmou que a Petrobras
"não foi criada para gerar ganhos para os especuladores de Wall Street",
mas para garantir a autossuficiência de petróleo no país e com preços
compatíveis com a economia popular.
"Sonho ser o presidente de um
País em que o julgador preste mais atenção à Constituição e menos às
manchetes dos jornais. Em que o Estado de Direito seja a regra, sem
medidas de exceção. Sonho com um país em que a democracia prevaleça
sobre o arbítrio, o monopólio da mídia, o preconceito e a discriminação.
Sonho ser o presidente de um país em que todos tenham direitos e
ninguém tenha privilégios", escreveu.
Ao final de sua carta, o
ex-presidente fez um apelo à união das esquerdas em torno de sua
candidatura. Disse ser necessário unir as "forças democráticas" do país
em um projeto "mais solidário e mais justo" e que tem certeza que todos
estarão "juntos no final da caminhada".
"Daqui onde estou, com a
solidariedade e as energias que vêm de todos os cantos do Brasil e do
mundo, posso assegurar que continuarei trabalhando para transformar
nossos sonhos em realidade. E assim vou me preparando, com fé em Deus e
muita confiança, para o dia do reencontro com o querido povo brasileiro.
E esse reencontro só não ocorrerá se a vida me faltar", concluiu.
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