Um estudo liderado por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz
(Fiocruz) aponta que um parasita que causava malária apenas em macacos
está relacionado a casos humanos ocorridos na região de Mata Atlântica
do Rio de Janeiro. Publicado hoje (31) na revista científica The Lancet Global Health,
o trabalho demonstra que o estado do Rio de Janeiro é o segundo foco
encontrado no mundo com transmissão desse tipo de malária. O primeiro
local em que o protozoário foi encontrado em humanos foi na Malásia, na
Ásia.
Conhecido como Plasmodium simium, o parasita foi
responsável pela infecção de 28 pessoas na região de Mata Atlântica
fluminense em 2015 e 2016. Enquanto de 2006 a 2014, o Rio registrava
média de quatro casos autóctones (locais) de malária por ano, em 2015 e
2016, esse índice subiu para 33 e 16, respectivamente. Com a descoberta,
o protozoário torna-se causador do sexto tipo de malária humana. No
Brasil, a doença era conhecidamente causada por três espécies do gênero Plasmodium: P. vivax, P. falciparum e P. malariae.
De
acordo com o coordenador do estudo, Cláudio Tadeu Daniel-Ribeiro, chefe
do Laboratório de Pesquisa em Malária do Instituto Oswaldo Cruz
(IOC/Fiocruz) a descoberta tem impacto relevante para a saúde pública,
por representar uma nova forma de infecção.
“A partir dos dados
trazidos por esse estudo, é razoável supor que uma nova modalidade de
transmissão, envolvendo macacos, mosquitos prevalentes na região e um
parasita diferente do P. vivax encontrado na Amazônia está
causando os casos nas regiões da Mata Atlântica do Rio de Janeiro e,
possivelmente, em outros estados”, disse. “No entanto, do ponto de vista
da vigilância epidemiológica, os casos de malária que detectamos
representam uma parcela mínima dos registros da doença no país. Além
disso, todos os pacientes diagnosticados com a infecção apresentaram
apenas sintomas leves e se recuperaram rapidamente após o tratamento”,
disse Daniel-Ribeiro, que também é coordenador do Centro de Pesquisa,
Diagnóstico e Treinamento em Malária da Fiocruz.
O tratamento
contra malária varia conforme o tipo do protozoário que causa a doença e
é feito com medicamentos antimaláricos. O principal sintoma da doença é
a febre e pode haver dores de cabeça, no corpo e nas articulalções. O
parasita P. falciparum causa o tipo mais grave da malária, é
encontrado na Região Amazônica e pode levar até a morte do doente.
Segundo o estudo, a malária da Mata Atlântica costuma ter poucos
sintomas e raramente é motivo de internação hospitalar.
Além da
Fiocruz, colaboraram para o estudo, a Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ), Universidade Federal de Goiás (UFG), o Centro
Universitário Serra dos Órgãos (Unifeso), o Instituto Estadual do
Ambiente do Rio de Janeiro (Inea), o Programa Nacional de Controle e
Prevenção da Malária do Ministério da Saúde, além da Universidade Nova
de Lisboa, em Portugal, e a Universidade de Nagasaki, no Japão.
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